The Washington Post: Julgamento de Bolsonaro expõe fragilidades democráticas do Brasil e embate com Trump

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete réus, acusados de envolvimento na tentativa de golpe, ganhou destaque no jornal americano The Washington Post. A publicação ressalta que o processo, que se inicia nesta terça-feira (2), representa um momento crucial na história política do Brasil, marcando a primeira vez que uma tentativa de ruptura institucional será levada a julgamento.

Além das implicações para a política nacional, o The Washington Post também destaca o confronto indireto com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Trump teria buscado influenciar o julgamento por meio de sanções contra o Brasil e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, relator do caso. O historiador Carlos Fico, especialista em questões militares, disse ao jornal que, diferentemente de outros golpes na história do país, desta vez pode haver responsabilização.

A historiadora Lilia Schwarcz, em declaração ao The Washington Post, enfatizou o caráter simbólico do julgamento, quebrando um “pacto de silêncio” sobre os militares. Ela relembra que, mesmo após a redemocratização, os crimes da ditadura militar nunca foram devidamente julgados devido à Lei da Anistia de 1979.

O jornal americano também aponta para o crescente distanciamento entre Brasil e Estados Unidos sob a gestão Trump. A tensão aumentou com ameaças de sanções contra Alexandre de Moraes e a imposição de tarifas adicionais a produtos brasileiros, além da revogação de vistos de autoridades, ações que seguiram uma campanha de bolsonaristas contra o magistrado.

Contudo, segundo o The Washington Post, o Brasil intensificou a pressão sobre Bolsonaro e seus aliados. A Polícia Federal indiciou Bolsonaro e seu filho, Eduardo, mencionando as reuniões do deputado com funcionários da Casa Branca, nas quais teria incentivado medidas punitivas contra o país. O ministro Alexandre de Moraes, em entrevista ao jornal, afirmou que não haverá recuo e que o julgamento seguirá seu curso, garantindo que os culpados serão condenados e os inocentes, absolvidos.