Smart Sampa premiado na Espanha, mas estudo questiona eficácia e aponta viés racial

O sistema de segurança urbana Smart Sampa, da Prefeitura de São Paulo, recebeu o Prêmio UCCI 2025 de Inovação Ibero-americana, sendo a única iniciativa de segurança pública a ser reconhecida no fórum realizado em Madri. O programa, que integra 40 mil câmeras de videomonitoramento, foi elogiado pelo uso de inteligência artificial, sensores urbanos e geolocalização para gestão de espaços públicos e tomada de decisões. O secretário municipal de Segurança Urbana, Orlando Morando, representou o prefeito Ricardo Nunes na cerimônia e celebrou o prêmio como um reconhecimento da vanguarda de São Paulo na segurança pública.

Desde a implementação do reconhecimento facial em novembro de 2024, a Guarda Civil Metropolitana (GCM) registrou a captura de 1.987 foragidos e a realização de 3.242 prisões em flagrante, segundo a administração municipal. O sistema também auxiliou na localização de 90 pessoas desaparecidas. A prefeitura destaca que 20 mil das 40 mil câmeras são próprias da plataforma, enquanto as outras 20 mil são integradas do setor privado, estrategicamente distribuídas pela cidade.

No entanto, uma pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) questiona a eficácia do Smart Sampa na redução da criminalidade. Intitulado “Smart Sampa vigia, mas não protege”, o estudo analisou dados de março de 2024 a abril de 2025 e concluiu que o sistema não gerou impacto significativo nas taxas de furtos, roubos ou homicídios. “O monitoramento visual em larga escala não substitui uma política pública de segurança efetiva”, afirmou Thallita Lima, coordenadora da pesquisa.

A pesquisa do CESeC também aponta um potencial viés racial no sistema de reconhecimento facial, citando estudos que mostram maior taxa de erro na identificação de mulheres negras. A Prefeitura de São Paulo contesta a metodologia do estudo, argumentando que ele utiliza comparações inadequadas e ignora os resultados absolutos da operação. A prefeitura também nega o viés racial, afirmando que o Smart Sampa utiliza apenas pontos biométricos faciais e que todos os alertas são validados por agentes humanos.

Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) corroboram parcialmente as conclusões do CESeC, mostrando um aumento nos registros de homicídios dolosos (12,2%) e furtos (3,8%) no primeiro semestre de 2025 em comparação com o mesmo período de 2024. Apesar dos R$ 10 milhões mensais investidos no programa, a pesquisa levanta dúvidas sobre o real impacto do Smart Sampa na segurança da população paulistana, evidenciando a necessidade de um debate aprofundado sobre a eficácia e as possíveis implicações do sistema.