Após a controversa operação no Complexo do Alemão e da Penha, que resultou em mais de uma centena de mortes, o Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Victor Santos, defendeu uma mudança de paradigma no combate ao crime organizado. Em entrevista à Jovem Pan, Santos diferenciou ‘ocupação’ de ‘retomada’, argumentando que a mera presença policial é insuficiente. Para ele, a solução passa por uma ação integrada entre município, estado e União, conforme reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Santos enfatizou a necessidade de o Estado ouvir as comunidades antes de implementar projetos, considerando as particularidades de cada favela. Ele destacou que a regularização fundiária, com a entrega de títulos de propriedade, deve ser o primeiro passo na retomada do controle territorial. “O Estado não pode desenvolver projetos para a comunidade e levar o que acha melhor. Ele precisa ouvir quem mora lá”, afirmou.
O secretário também criticou a legislação antiterrorismo brasileira, considerada defasada para lidar com as motivações das organizações criminosas atuais, como as milícias. Ele citou a exploração de serviços básicos como internet e gás como fontes de renda do crime organizado. “No Alemão e na Penha vivem cerca de 280 mil pessoas. Se metade delas paga R$ 100 de internet por mês, isso gera R$ 14 milhões”, exemplificou.
Santos detalhou que a recente operação nas comunidades teve como foco a coleta de dados digitais e financeiros, mais valiosos do que a prisão de líderes. “O foco não é apenas prender lideranças. Buscamos mídias, sinais de Wi-Fi, arquivos em nuvem, informações mais valiosas do que o próprio líder”, explicou, ressaltando a estratégia para reduzir o risco aos moradores.
Por fim, o Secretário criticou a relação entre o poder público e o jogo do bicho, mencionando o carnaval como um exemplo de conivência. “Parece que o carnaval é um momento de anistia. Você vê autoridades e bicheiros juntos, como se fosse uma festa cultural”, lamentou, apontando para uma crise moral persistente no Rio de Janeiro.
