Receita Federal Declara Guerra Financeira ao Crime Organizado: Rastreamento de Facções como PCC Intensificado

A Receita Federal, tradicionalmente vista como o órgão arrecadador de impostos, expande sua atuação e se consolida como uma poderosa ferramenta de inteligência no combate ao crime organizado. Essa mudança de foco ganhou destaque após a Operação Carbono Oculto, que expôs a infiltração do Primeiro Comando da Capital (PCC) em empresas do setor financeiro, incluindo corretoras e fintechs da Faria Lima, em São Paulo.

Segundo Márcia Meng, superintendente da Receita Federal em São Paulo, o órgão possui um acervo de dados financeiros único no país, o que o torna fundamental para desmantelar esquemas de lavagem de dinheiro e outras operações ilícitas. “A Receita Federal trabalha para identificar a necessidade de cobrança de tributos na atividade econômica e, por isso, tem um conjunto de dados que nenhum outro órgão tem”, explica Meng, ressaltando a capacidade de monitoramento constante e abrangente.

Meng, auditora fiscal com 29 anos de experiência e a primeira mulher a liderar a maior região fiscal do Brasil, esteve à frente das investigações que revelaram o esquema. Ela aponta que brechas na regulamentação de fintechs e a crescente utilização de fundos na economia abriram espaço para a atuação das facções criminosas. Em resposta, a Receita Federal agora exige que todas as fintechs, inclusive as de menor porte, reportem suas transações.

A estratégia da Receita, conforme Meng, vai além das apreensões e prisões. “É preciso confiscar a droga, fechar a empresa clandestina, prender os criminosos. Mas o trabalho da Receita é tirar o instrumento financeiro deles – e vamos atuar nisso com responsabilidade”, afirma. A superintendente enfatiza que o enfraquecimento do fluxo de recursos financeiros é a maneira mais eficaz de desestabilizar a estrutura das facções.

Por fim, Meng alerta que o combate à infiltração do crime organizado no setor financeiro ainda está em fase inicial, e a atuação da Receita será intensificada. “A maior arma do crime organizado não é a bomba atômica, é o dinheiro”, conclui. A expectativa é que novas operações sejam deflagradas, reforçando a colaboração com outros órgãos de segurança e estreitando o cerco contra a lavagem de dinheiro e o financiamento de atividades ilícitas.