A Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social (ANMP) revelou que alertou o então presidente eleito Jair Bolsonaro sobre “desvios, fraudes e irregularidades com o dinheiro público dentro do INSS” durante o período de transição governamental entre Temer e Bolsonaro. O encontro ocorreu antes mesmo da posse, demonstrando a preocupação da categoria com a gestão do instituto.
O primeiro contato formal ocorreu em 12 de novembro de 2018, quando representantes da ANMP se reuniram com Onyx Lorenzoni, então ministro-chefe do gabinete de transição. Na ocasião, a associação apresentou um panorama dos problemas na gestão do INSS, incluindo os impactos no déficit previdenciário, os resultados do programa de revisão de benefícios e as discussões sobre a Reforma da Previdência.
Um mês depois, em 11 de dezembro de 2018, os peritos foram recebidos pessoalmente por Bolsonaro no CCBB, em Brasília. A ANMP relatou ter discutido a criação de uma carreira federal para a perícia médica e alertado sobre os riscos do aparelhamento político na autarquia. “O presidente reforçou a importância de nosso trabalho e ficou surpreso com os números apresentados sobre desvios, fraudes e irregularidades com o dinheiro público dentro do INSS”, afirmou a entidade.
Após a reunião com Bolsonaro, a ANMP também se encontrou com o então futuro ministro da Cidadania, Osmar Terra, e com o grupo de trabalho temático da Previdência Social. O senador Izalci Lucas confirmou ter sido procurado pelos peritos e defendeu a atuação de Bolsonaro, mencionando a edição da medida provisória 871 como resposta às suspeitas de fraude.
Editada em 17 de janeiro de 2019, a MP 871 alterou regras sobre descontos de associações em aposentadorias e pensões. A medida foi revogada em 2022. Atualmente, investigações da CGU e da Polícia Federal sobre fraudes nos descontos do INSS motivaram a criação da CPMI do INSS. A ANMP não quis se manifestar além do que já foi divulgado, e a defesa de Bolsonaro informou que ele está incomunicável por decisão judicial.