O conclave que escolherá o próximo líder da Igreja Católica conta com sete cardeais brasileiros aptos a votar — e também a serem votados. Pouca gente sabe, porém, que o Brasil esteve muito perto de eleger um papa em 1978. Naquele ano, o cardeal dom Aloísio Lorscheider chegou a receber os votos necessários para assumir o posto mais alto da Igreja, mas recusou a nomeação.
Durante o conclave realizado após a morte de João Paulo I — cujo papado durou apenas 33 dias —, dom Aloísio, então arcebispo de Fortaleza, foi o primeiro a atingir a maioria qualificada de dois terços dos votos. No entanto, ao ser consultado, ele recusou o cargo, alegando problemas de saúde: havia passado por uma cirurgia cardíaca e carregava oito pontes de safena. A história foi relembrada recentemente pelo escritor e educador Frei Betto, em artigo publicado em seu site.
Com a recusa, o conclave se viu novamente em impasse até que, com articulação decisiva de dom Aloísio junto a cardeais latino-americanos e africanos, os votos se consolidaram em torno do cardeal polonês Karol Wojtyla, que se tornaria João Paulo II — um dos papas mais longevos da história, com 26 anos de pontificado.
Segundo o jornalista americano Tad Szulc, autor da biografia Papa João Paulo II, Lorscheider foi peça-chave para destravar as negociações e viabilizar a eleição do polonês. O próprio dom Aloísio teria pedido aos colegas que não votassem nele novamente, com receio de repetir a breve experiência do pontificado anterior.
Dom Aloísio Lorscheider faleceu em 23 de dezembro de 2007, em Porto Alegre, aos 83 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos, quase dois anos após a morte de João Paulo II.
Neto de imigrantes alemães, Lorscheider nasceu em Estrela (RS) e teve uma carreira notável na Igreja. Foi arcebispo de Fortaleza e de Aparecida, presidiu a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano. Foi nomeado cardeal em 1976 pelo papa Paulo VI.
Hoje, entre os cardeais brasileiros com direito a voto, está dom Sergio da Rocha, arcebispo de São Salvador da Bahia e primaz do Brasil. Apesar do ceticismo entre membros do próprio clero brasileiro quanto à possibilidade de um papa nacional, seu nome foi citado entre os favoritos pela imprensa francesa.
fonte: taroba