Em um movimento estratégico para fortalecer sua presença no mercado global, o Mercosul assinou um acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), composta por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. A assinatura, realizada no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, marca um avanço significativo nas relações comerciais do bloco sul-americano com o Velho Continente, enquanto aguarda a aprovação de um acordo mais amplo com a União Europeia.
Este acordo multilateral cria um mercado de 290 milhões de consumidores, com um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 4,39 trilhões. A parceria, negociada ao longo de 14 rodadas desde 2017, promete impulsionar o comércio entre os blocos, abrindo novas oportunidades para empresas e consumidores de ambos os lados do Atlântico. A Argentina ocupava a presidência rotativa do Mercosul quando os termos finais foram acertados em junho de 2025, em Buenos Aires.
Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, classificou o acordo como um passo “grande e importante”. “Em um mundo de incerteza, nós estamos dando uma prova de que é possível fortalecer o multilateralismo e o livre comércio”, afirmou Alckmin, destacando os potenciais avanços sociais, econômicos e ambientais decorrentes da parceria.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, ressaltou que as negociações com a EFTA foram marcadas por “persistência e espírito de cooperação”. Ele enfatizou que o acordo envia um sinal claro de que o Mercosul continua a defender o comércio internacional como um instrumento para elevar o crescimento econômico e a prosperidade, mesmo em um cenário global de tensões comerciais e aumento do protecionismo.
A EFTA eliminará 100% das tarifas de importação dos setores industrial e pesqueiro, tornando os produtos do Mercosul mais competitivos nesses mercados. O acordo também abre oportunidades comerciais para produtos agrícolas como carnes, milho, farelo de soja, mel e frutas. Em contrapartida, o Mercosul se abre para as vendas da EFTA, com ferramentas de defesa comercial para proteger setores sensíveis.
O acordo Mercosul-EFTA também incorpora compromissos inovadores na área de sustentabilidade, como a exigência de que prestadores de serviços digitais utilizem pelo menos 67% de energia limpa em sua matriz elétrica. “Assinar este acordo às vésperas da COP30 de Belém, é um exemplo de que é possível e desejável integrar as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento sustentável em nossa prática comercial”, ressaltou Mauro Vieira.
Embora a assinatura represente um marco, o acordo ainda precisa passar por trâmites internos, como tradução e aprovação pelos parlamentos dos países membros, incluindo o Congresso Nacional no caso do Brasil. Paralelamente, o Brasil busca expandir sua rede de acordos comerciais, com negociações em andamento com os Emirados Árabes Unidos, Canadá, México e Índia, entre outros.
Alckmin e Vieira expressaram otimismo em relação à assinatura de um acordo de livre comércio com a União Europeia ainda este ano. As negociações com a UE, que se arrastam há cerca de 25 anos, representam uma prioridade para o Mercosul, com o potencial de criar um mercado de mais de 700 milhões de pessoas e corresponder a 26% da economia global. No entanto, o acordo enfrenta resistências, principalmente da França, que alega preocupações ambientais e protecionismo de seus interesses agrícolas.