Em uma jogada estratégica liderada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e com o apoio de líderes do Centrão, a votação sobre o voto secreto na PEC da Blindagem teve um desfecho surpreendente. A medida, que havia sofrido um revés, foi resgatada por meio de uma articulação que garantiu 314 votos favoráveis contra 168, alterando o cenário da proposta. A manobra reacende o debate sobre a transparência em processos que envolvem congressistas.
A reviravolta ocorreu após uma derrota no dia anterior, quando a base governista não conseguiu votos suficientes para aprovar o recurso que também valeria para autorizações de prisão de parlamentares. A sessão foi marcada por tensões e troca de farpas, incluindo um comentário de Motta ao líder do PT, Lindbergh Farias, sobre suas frequentes idas ao STF. A relação entre o governo e o Centrão parece estremecida, com críticas à falta de apoio do governo à PEC.
De acordo com o jornal Estadão, o Centrão teria oferecido um acordo ao PT: aprovar a PEC da Blindagem em troca de apoio para derrotar projetos de interesse do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara. O plano de reinserir o voto secreto foi definido em reunião entre Motta e o relator da proposta, Cláudio Cajado (PP-BA), ainda pela manhã, demonstrando o esforço concentrado para reverter o resultado anterior. A oposição e setores do governo criticaram a manobra, questionando sua legalidade.
Cláudio Cajado justificou a manobra afirmando que “a votação do voto secreto ontem não refletiu o espírito do plenário”. O requerimento para resgatar o voto secreto foi endossado por diversos líderes partidários, incluindo Doutor Luizinho (PP-RJ) e Sósthenes Cavalcante (PL-RJ), demonstrando um apoio suprapartidário à medida. Parlamentares bolsonaristas, como Bia Kicis (PL-DF), manifestaram apoio à PEC, embora a considerem aquém do ideal.
Opositores alegam que a aprovação da PEC faz parte de um acordo maior para anistiar os envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, buscando evitar a condenação de Jair Bolsonaro. Paralelamente, líderes partidários se reunirão para discutir a anistia e avaliar as chances de uma eventual votação. A PEC, em sua essência, busca restaurar a necessidade de “licença prévia” da Câmara ou do Senado para que o STF possa abrir processos criminais contra parlamentares, mecanismo extinto em 2001. Antes disso, Câmara e Senado barraram 224 pedidos de licença do STF para processar congressistas, mostrando o poder de veto que a medida pode conferir ao Legislativo.