A crise de três meses entre Brasil e Estados Unidos, marcada por tarifas punitivas e sanções, permanece estagnada. Embora fatores externos como o “shutdown” americano e as tensões em Gaza influenciem, a verdadeira raiz do problema reside em Washington: uma divisão interna no governo Trump que se transformou em uma batalha ideológica acirrada. Essa disputa interna define o futuro das relações bilaterais.
O governo Trump está dividido em duas facções antagônicas, cada uma defendendo uma abordagem distinta em relação ao Brasil. Essa divisão, digna de um enredo de série política, impede o avanço das negociações e a resolução da crise.
A ala pragmática, liderada por figuras como o Secretário de Comércio Howard Lutnick, prioriza os interesses econômicos americanos. Preocupados com as perdas do empresariado americano e a crescente aproximação do Brasil com a China, defendem uma solução rápida para a disputa comercial.
Em contrapartida, a ala ideológica, encabeçada por nomes como o Secretário de Estado, Marco Rubio, alinhado com a agenda bolsonarista, demonstra forte resistência. Exemplo disso é Scott Bessent, Secretário do Tesouro, que chegou a cancelar uma reunião com o ministro Fernando Haddad para se encontrar com aliados de Bolsonaro, sinalizando o peso da influência ideológica nas decisões.
Essa ala mais conservadora tem sido responsável pelas medidas punitivas contra o Brasil, incluindo restrições de vistos e sanções contra o ministro Alexandre de Moraes e sua esposa. “É desta ala mais dura que vieram a maior parte das ações contra o Brasil nos últimos meses”, frisa a análise.
Apesar desse cenário de tensão, o encontro inesperado entre Lula e Trump na ONU surpreendeu a todos. Enquanto Bolsonaro era julgado no STF, a ala pragmática já sondava a possibilidade de um contato cordial entre os presidentes, culminando em um abraço efusivo de Trump, um gesto que demonstra uma aparente mudança de prioridades.
No entanto, a concretização do telefonema prometido por Trump enfrenta obstáculos burocráticos, principalmente devido à lentidão do Departamento de Estado, liderado por Rubio. A ala pragmática, por sua vez, continua a buscar alternativas, com encontros entre autoridades dos dois países.
Apesar dos entraves e da guerra interna em Washington, o governo brasileiro mantém a esperança de que a situação possa ser resolvida. Resta saber se a “ótima química” entre Lula e Trump será suficiente para superar a resistência ideológica dentro do governo americano e, finalmente, destravar o diálogo entre os dois países.