A Cadeia Pública de Apucarana atingiu um cenário crítico de superlotação e preocupa autoridades e entidades locais. Segundo dados da 2ª Vara Criminal, o espaço — projetado para 152 presos provisórios — abriga hoje 435 detentos. O número representa uma ocupação 186% acima do limite previsto.
Na prática, o local funciona como uma penitenciária, já que 275 internos (63% do total) são condenados e deveriam cumprir pena em unidades adequadas do sistema prisional.
Estrutura precária e riscos constantes
O juiz da 2ª Vara Criminal da Comarca, José Roberto Silvério, critica a manutenção da cadeia em funcionamento sem as condições mínimas de segurança e ressocialização. Ele defende a construção de uma penitenciária fora do perímetro urbano, com estrutura moderna e efetivo qualificado.
“A estrutura da Cadeia Pública é totalmente sucateada. A penitenciária receberia esses mesmos presos, mas com segurança adequada e agentes concursados. No sistema penitenciário não é possível ultrapassar a capacidade”, ressalta Silvério.
Construído na década de 1980, o prédio não comporta ampliações. A situação dentro das celas evidencia o colapso: espaços planejados para quatro pessoas chegam a abrigar até 18 detentos. A cela menos lotada tem 11 presos.
Para o advogado Marcio Rei, presidente do Conselho da Comunidade, a única solução viável é a construção de uma nova unidade prisional.
Insegurança para moradores e resistência da comunidade
A cadeia está localizada na Vila Nossa Senhora da Conceição, entre escolas, comércios e residências. Para a presidente da OAB local, Daniela Pacheco, a superlotação potencializa riscos à população:
“É um perigo para o cidadão, pela possibilidade de rebeliões ou fugas.”
O presidente da Câmara Municipal, Danylo Acioli, classifica a situação como uma “bomba-relógio” instalada no centro da cidade. Ele defende a construção de um presídio industrial, voltado à ressocialização, e rebate a resistência histórica da população:
“No passado, rejeitaram o projeto dizendo que viriam facções para Apucarana. Não construíram e o PCC e o Comando Vermelho já estão aqui.”
Recursos garantidos, obra parada
Lideranças afirmam que o governo do Paraná já destinou cerca de R$ 70 milhões para novas penitenciárias no estado. Para Apucarana, está previsto um complexo prisional rural com 750 vagas, incluindo áreas para trabalho e educação.
O entrave atual está na definição do terreno e no interesse político em executar o projeto. A proposta chegou a ser lançada em 2013, mas o local indicado foi descartado por questões estruturais.
O presidente do Conselho Municipal de Segurança (Conseg), Vicente Batista Junior, cobra protagonismo do município:
“O dinheiro está disponível. É uma obra necessária.”
Segundo ele, além de solucionar o problema carcerário, o novo presídio fortaleceria a economia local, com a contratação de cerca de 150 servidores estaduais e geração de empregos indiretos, como na produção de refeições e arrecadação de ISS.



