Em um gesto de apoio ao reconhecimento do Estado palestino, mais de 50 prefeituras francesas, lideradas principalmente por administrações de esquerda, hastearam a bandeira palestina nesta segunda-feira. A ação desafia a orientação do governo nacional, que expressou preocupações sobre possíveis tensões internas e o risco de importar o conflito para o território francês.
O movimento ocorre em meio à expectativa de que o presidente Emmanuel Macron possa oficializar o reconhecimento do Estado palestino durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, cumprindo uma promessa anterior. Essa possibilidade já gerou forte reação de Israel, intensificando o debate sobre o papel da França no cenário geopolítico do Oriente Médio.
De acordo com o Ministério do Interior, 52 localidades aderiram ao ato, em um universo de aproximadamente 35 mil em todo o país. Saint-Denis, na região metropolitana de Paris, foi uma das primeiras a se manifestar, com a presença do líder socialista Olivier Faure, que descreveu o gesto como um “símbolo da busca por uma solução de dois Estados”.
Em contrapartida, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, optou por não participar da campanha, mas projetou as bandeiras de Israel e da Palestina na Torre Eiffel, acompanhadas de uma pomba da paz, em um esforço para equilibrar as demonstrações de apoio. Ativistas, no entanto, hastearam uma bandeira palestina na fachada da prefeitura por cerca de meia hora, demonstrando a divisão de opiniões na capital.
O Ministério do Interior, sob a chefia do conservador Bruno Retailleau, enviou um telegrama aos prefeitos pedindo que não adotassem a medida, argumentando com o princípio de neutralidade do serviço público e alertando para possíveis distúrbios à ordem pública. A Justiça já determinou a retirada de algumas bandeiras, como em Malakoff, onde a prefeita comunista Jacqueline Belhomme foi multada por descumprimento, mas declarou que manterá o gesto.
A polêmica reacende debates anteriores sobre a exibição de bandeiras estrangeiras em edifícios públicos na França. Em 2022, diversas cidades hastearam bandeiras ucranianas em solidariedade à resistência contra a Rússia, enquanto em 2023, a Justiça ordenou a retirada de bandeiras de Israel hasteadas em Nice após ataques do Hamas, evidenciando a complexidade das questões geopolíticas no contexto local.


