Após quase três meses de espera, criança de Maringá recebe dose do remédio mais caro do mundo após decisão do STF

Após quase três meses da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), uma criança diagnosticada com uma doença rara em Maringá, no norte do Paraná, finalmente recebeu a aplicação do Zolgensma — medicamento considerado um dos mais caros do mundo, avaliado em R$ 7 milhões. Joaquim Burali, de 2 anos, tem Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 2, uma doença degenerativa que compromete funções motoras.

Em 21 de agosto, a ministra Cármen Lúcia determinou que o Governo Federal arcasse com o medicamento, além de despesas de internação, custos hospitalares e honorários médicos. Apesar da decisão, a família precisou aguardar quase 90 dias para que a ordem fosse cumprida.

A aplicação da dose única do Zolgensma ocorreu em 14 de novembro, no Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba. Inicialmente, o governo depositou R$ 5,5 milhões em uma conta judicial vinculada ao menino, valor insuficiente para a compra. Diante disso, foi necessária a intimação da Novartis, fabricante do medicamento, que aceitou prosseguir com a liberação do tratamento. No mesmo dia, o Governo Federal se comprometeu a complementar o valor restante.

Nesta terça-feira (25), o Ministério da Saúde confirmou ter realizado dois depósitos complementares em outubro.

“O Ministério da Saúde realizou o depósito de R$ 5,5 milhões em 18 de setembro, referente à decisão judicial. O depósito complementar específico para o medicamento foi feito em 23 de outubro, no valor de R$ 652.174,49. Além disso, em 8 de outubro, houve o depósito de R$ 30.766,40 para despesas hospitalares e honorários médicos”, informou a pasta.

Segundo o pai, Lucas Matheus Rodrigues, a infusão durou cerca de uma hora, e Joaquim recebeu alta no mesmo dia. A família permaneceu na cidade para exames e acompanhamento pós-aplicação. Há expectativa de retorno a Maringá ainda nesta semana, onde o menino continuará com fisioterapia e outras terapias contínuas.

O pai relata alívio, mas também preocupação pelo atraso do tratamento:

“É um sentimento de dever cumprido, de gratidão a Deus e a todos que ajudaram. Mas é um misto, porque muitos acham que, depois do Zolgensma, tudo se resolve. Embora isso seja um sonho, sabemos que não é assim. O Joaquim foi muito prejudicado pelo atraso do governo, perdeu três meses importantes. A luta continua”, disse.

Apesar da aplicação do medicamento, a família mantém uma vaquinha online para seguir custeando terapias essenciais à evolução do menino.

Segundo a Anvisa, o Zolgensma tem eficácia comprovada em crianças com menos de dois anos, período em que os danos motores ainda podem ser evitados. Joaquim, no entanto, completou dois anos 20 dias após a decisão do STF e recebeu a aplicação cerca de 65 dias após o aniversário. Mesmo assim, a neurologista pediátrica Valéria Werner afirma que não há contraindicação clínica após essa idade.

Em nota, a Novartis explicou o funcionamento do tratamento:

“O Zolgensma é uma terapia gênica de dose única que entrega ao organismo uma cópia funcional do gene SMN1, ausente ou defeituoso em crianças com AME. Isso permite a produção da proteína SMN, essencial à sobrevivência dos neurônios motores, desacelerando a progressão da doença e potencialmente melhorando a qualidade de vida dos pacientes.”

Neste ano, o Ministério da Saúde passou a viabilizar as primeiras aplicações do Zolgensma na rede pública para pacientes com AME tipo 1, mediante decisões judiciais provocadas pelo Ministério Público.

fonte: g1.globo