Apesar de Trump, Estados Americanos Ignoram Retrocesso Federal e Avançam na Agenda Climática

Mesmo com o retorno de Donald Trump ao poder em 2025, e sua conhecida postura de minimizar a crise climática, desdenhar do Acordo de Paris e impulsionar a expansão de combustíveis fósseis, a ação climática nos Estados Unidos persiste em nível estadual. Liderados por estados como a Califórnia, grande parte do país mantém compromissos ambiciosos de descarbonização, criando uma narrativa ambiental que desafia a retórica federal.

Essa autonomia dos estados é um marco histórico. A Califórnia, desde os anos 2000, estabeleceu um dos sistemas de comércio de emissões mais robustos do mundo, vinculado ao mercado de Quebec, tornando-se referência global em eficiência energética e transportes de baixa emissão. Atualmente, mais de um terço da eletricidade consumida no estado provém de fontes renováveis, um resultado direto de políticas locais resilientes, que não recuam mesmo diante das tentativas federais de desmantelar regulamentações ambientais.

Nesse cenário, destaca-se o acordo firmado entre Brasil e Califórnia durante a Climate Week de Nova York. O memorando de entendimento prevê cooperação em áreas como mercados de carbono, expansão de veículos de emissão zero, transição energética, soluções baseadas na natureza e monitoramento da qualidade do ar. Este pacote de medidas reforça a convergência entre agendas subnacionais e a diplomacia brasileira, abrindo portas para investimentos, transferência de tecnologia e padrões regulatórios.

A Califórnia, por exemplo, estendeu seu programa de “cap-and-invest” até 2045, garantindo bilhões de dólares para financiar inovação climática e justiça ambiental. Para o Brasil, essa conexão é estratégica, especialmente em áreas como a bioeconomia da Amazônia e o desenvolvimento de uma indústria de baixo carbono. Como ressalta um especialista, “o acordo Brasil-Califórnia simboliza uma tendência global: a ação climática não está mais restrita aos governos centrais.”

Portanto, ao se articular com atores subnacionais poderosos, o Brasil não só expande sua rede de cooperação, mas também sinaliza ao mercado o alinhamento com os padrões mais avançados de governança climática. Essa estratégia permite escapar da paralisia geopolítica e reposicionar o país como um ator relevante na busca pela descarbonização. Em um mundo marcado por retrocessos, alianças como essa demonstram que a luta climática persiste em múltiplos níveis de governança, impulsionada pela persistência de estados e sociedades que se recusam a esperar.