O ministro Luís Roberto Barroso planeja antecipar sua saída do Supremo Tribunal Federal (STF), pondo fim a uma trajetória de mais de uma década na mais alta corte do país. Embora pudesse permanecer no cargo até 2033, quando completaria 75 anos, idade para a aposentadoria compulsória, Barroso já considerava deixar o tribunal ao fim de sua presidência, em setembro de 2025.
A decisão, inicialmente, estava atrelada a um pacto pessoal feito em 2022, quando sua esposa, Tereza, enfrentava um câncer. O ministro havia prometido se aposentar após a presidência para que pudessem “viajar e aproveitar a vida”. Infelizmente, Tereza faleceu antes que esse plano se concretizasse. A perda de sua esposa teve um grande impacto em sua decisão.
“Infelizmente, ela faleceu antes, essa motivação específica eu já não tenho. Mas a vida é feita de ciclos”, declarou Barroso à CNN, pouco antes de passar o comando do STF ao ministro Edson Fachin. A declaração revela a mudança de perspectiva do ministro, que agora busca um novo capítulo em sua vida.
Além do luto, outros fatores contribuíram para a decisão de Barroso. As sanções impostas pelos Estados Unidos, que suspenderam seus vistos e os de seus familiares, tiveram um impacto direto em seu cotidiano. Barroso, colaborador da Harvard Kennedy School, costumava passar as férias nos EUA, dedicando-se à leitura e à escrita.
Em seu discurso de despedida, Barroso negou que as sanções ou pressões políticas influenciaram sua decisão, mas reconheceu o peso emocional do cargo. “Os ônus da função acabam se transferindo aos nossos familiares e pessoas queridas, que sequer têm responsabilidade pela nossa atuação”, afirmou.
Nos bastidores, Barroso também expressava incômodo com a “crise de civilidade global”. O clima de polarização e os ataques frequentes ao STF o levaram a repensar seu futuro. A mudança para a Segunda Turma, com ministros com quem tem menos afinidade, como Gilmar Mendes e Nunes Marques, também diminuiu seu entusiasmo pela rotina do tribunal.
Com 65 anos, Barroso sente que sua missão como magistrado está completa. Avô recente, ele almeja mais tempo com o neto Rafael e busca um estilo de vida mais simples, distante dos holofotes e da segurança constante. “Quero mais espiritualidade, literatura e poesia na minha vida”, confidenciou a pessoas próximas, sinalizando uma nova fase em sua vida.



