Andando pelas poucas ruas da nossa cidade, pude perceber o quanto ela sofreu mudanças em suas paisagens, nos últimos vinte e poucos anos. Por ela ser pequena, suas mudanças ficam ainda mais notáveis, e por ser pequena tem a impressão de que ela seja frágil e incapaz. Incapaz de se defender das mudanças do tempo, dos golpes de marretas em suas construções antigas, incapaz de segurar ao máximo àquela Seringueira cravada em seu solo, incapaz de fazer com que seus filhos fiquem sempre por perto.
E a vontade que dá é de abraçar a cidade toda, numa tentativa de preservar tudo isso pra sempre, pensando se a nossa pequena cidade fosse mesmo pequena, incapaz e insegura.
Mas, num segundo olhar, numa segunda reflexão, você percebe que o inseguro é você, inseguro diante de algo realmente grande e poderoso, algo que dá sentindo à nossa vida, um velho senhor chamado tempo. O tempo bate e assopra, leva e traz, e assim vai modelando nossa cidade e nossa vida. O tempo transformou uma padaria, que eu nem me lembro mais o nome, em uma Choperia. Fez a Loja do Senhor Karakida se arrastar cidade acima. Fez a Rua Boiadeiro perder o sentido de ser chamada assim, assim como a Rua da Sambra hoje, já não é mais a Rua da Sambra. Entretanto, como já foi dito, o tempo bate e assopra, leva e traz. O tempo transformou um sonho recheado de esforço, numa grande empresa chamada Geloni, que tem levado o nome da nossa pequena cidade, Brasil afora. O mesmo tempo que levou embora a Telepar e o Carlinho, que sempre andaram juntos, trouxe o Lorenzo. Assim vai trabalhando o tempo, num trabalho de dar sentindo a vida.
Querer prender Guaraci debaixo dos braços e impedir suas mudanças, apenas nos mostra o quanto temos medo do tempo. Cada vez que uma rua da nossa cidade sofre mudanças, cada vez que um guaraciense se vai, é um pedaço da vida de alguém que vai embora, algo que lhe dava sentido, que agora não existe mais, porém é necessário entender que o tempo passa, e precisamos dar lugar a outros.
Assim como não faz sentido comprar um ficha pra fazer uma ligação nos dias de hoje, também não faz sentido chorar pela falta da Sambra, na Rua da Sambra. Não faz sentidos querer segurar a seringueira ali pra sempre, pra novas gerações poderem brincar nos seus galhos como nós, porque as novas gerações não brincam mais em arvores. Cai à ficha que de que vinte e poucos anos ficaram para trás, e que quase tudo que lhe era essencial, hoje não tem mais serventia, e nos resta renascer a cada novo dia, a cada novidade a cada Lorenzo.
PH Vaz – Guaraci
Estudante de História – UEL