Em um movimento que sinaliza a crescente busca por alternativas à governança global tradicional, o presidente chinês Xi Jinping recebeu os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e da Índia, Narendra Modi, em uma cúpula na cidade portuária de Tianjin. O encontro, que reúne representantes de cerca de 20 nações da Europa e Ásia, faz parte da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) e se estenderá até segunda-feira, antecedendo um grande desfile militar em Pequim.
A OCX, frequentemente apontada como um contrapeso à OTAN, congrega quase metade da população mundial e uma parcela significativa do Produto Interno Bruto global. A organização é composta por China, Índia, Rússia, Paquistão, Irã, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão e Belarus, além de contar com a participação de outros 16 países como observadores ou “parceiros de diálogo”. A reunião deste ano ganha relevância em um cenário geopolítico global cada vez mais polarizado.
Durante o encontro, Modi enfatizou o compromisso da Índia em desenvolver relações com base na “confiança mútua, dignidade e sensibilidade”, conforme vídeo publicado na rede social X. A declaração surge em um momento delicado, considerando a rivalidade histórica e os confrontos de fronteira entre as duas nações mais populosas do mundo, que disputam influência no sul da Ásia.
O degelo nas relações bilaterais parece ter começado em outubro do ano passado, quando Modi e Xi se reuniram pela primeira vez em cinco anos. Na ocasião, o líder indiano destacou que “os interesses de 2,8 bilhões de pessoas dos dois países estão vinculados à nossa cooperação”, ressaltando o potencial para o bem-estar da humanidade.
Analistas apontam que a China e a Rússia priorizam plataformas como a OCX para expandir sua influência internacional, especialmente em um contexto de tensões com os Estados Unidos e a Europa. “A China tenta, há muito tempo, apresentar a OCX como um bloco de poder não liderado pelo Ocidente que promove um novo tipo de relações internacionais que, segundo afirma, é mais democrático”, explicou Dylan Loh, professor da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura.
A cúpula também servirá de palco para importantes negociações bilaterais. Espera-se que Putin se reúna com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para discutir o conflito na Ucrânia, e com o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, para tratar do programa nuclear de Teerã. O evento ocorre em um momento de reconfiguração das alianças globais e busca solidificar a OCX como um ator de peso no cenário internacional.