Ser mulher é difícil. Sempre. Em todas as ocasiões. Pare e pense um pouquinho. Mulher não pode enfrentar marido, não pode sair de casa, e quando é solteira?! Se sai com muitos, é “biscate”.
E se não fosse trágico, seria cômico até. Sabe o que a palavra “biscate” significa no dicionário? Segundo o Dicio, “Significado de Biscate: substantivo masculino;
Trabalho ou serviço extraordinário, ocasional, e de pouca monta”.
E analisando o sentido literal da palavra, se entende para o que a mulher serve. Ela serve para tudo. Isso mesmo, tudo. Você não entendeu errado. Isso não é só um significado de um dicionário, também é cultural. E entenda, que quando digo cultural, digo que aprendemos ser, pensar e agir assim. Mas não somos apenas isso.
Nós, mulheres, viemos lutando por isso sempre, da mesma forma. Somos hostilizadas e ao mesmo tempo vitimadas há séculos. Talvez, desde o nascimento da humanidade. Não sabemos.
Mas como mulher, e para as mulheres leitoras, não se deixem abater por qualquer coisa que considerar menor em comparação a você. Nós somos sempre mais. Damos conta de tudo, assim como nos é ensinado. Essa é a relação cultural.
Porque cultura é o que faz sentido para determinadas partes da sociedade. E “fazer parte da sociedade” não significa que você tenha voz ou lugar. Queira ainda ter esses dois lugares juntos, lugar e fala! Qual homem deixa isso acontecer?
Poderia ter publicado essa coluna ontem, mas em meio a uma pandemia, quem ocupa o maior lugar no fronte (na frente dos trabalhos) é a mulher, e quem é taxado como “mulherzinha” também. E homenagear mulheres no dia do trabalho não seria suficiente, pois elas estão todos os dias enfrentando essa doença aterrorizante. Atualmente, ser mulher é ser literalmente – também! – resistência.
A mulher, eu e você, leitora, é a mais afetada na quarentena, não só por subir o índice de violência doméstica. Como mostra o último relatório da ONU mulheres, os dados foram retirados do site G1, mulheres são:
- “70% dos trabalhadores de saúde em todo o mundo são mulheres, fato que as expõe a um maior risco de infecção pelo novo coronavírus;
- com o isolamento, os índices de violência doméstica e feminicídio têm aumentado no mundo– como as mulheres estão confinadas com seus agressores e distantes do ciclo social, riscos para elas são cada vez mais elevados;
- entre os idosos, há mais mulheres vivendo sozinhase com baixos rendimentos;
- A ONU Mulheres estima que, dentre a população feminina mundial, as trabalhadoras do setor de saúde, as domésticas e as trabalhadoras do setor informal serão as mais afetadas pelos efeitos da pandemia de coronavírus.
- mulheres também são maioriaem vários setores de empregos informais, como trabalhadores domésticos e cuidadores de idosos;
- com a pandemia, mulheres têm de se dividir entre diversas atividades,como as seguintes: emprego fora de casa, trabalhos domésticos, assistência à infância (cuidado com filhos), educação escolar em casa (já que as escolas estão fechadas) e assistência a idosos da família
- antes da Covid-19, mulheres desempenhavam três vezes mais trabalhos não remuneradosdo que os homens; com o isolamento, a estimativa é que este número triplique;
- mulheres não estão na esfera de poder de decisão na pandemia: elas são apenas 25% dos parlamentaresem todo o mundo e menos de 10% dos chefes de Estado ou de Governo;
- e, no setor têxtil, um dos mais afetados da indústria em todo mundo e paralisado por causa do trabalho temporário de lojas,as mulheres são três quartos dos trabalhadores no mundo.”
Reitero, ser mulher não é fácil. Nunca. Muito menos diante de uma pandemia. Respeite todas a mulheres que vocês conhecem. SEMPRE estamos na frente de qualquer função ou “obrigação”. E aqui, não ouso me colocar no lugar de fala das mulheres negras, sou branca, de classe média e dentro dos padrões exigidos pela sociedade. Mas deixo o espaço aberto para que venham me dar seus depoimentos, se quiserem, e claro dar lugar e fala que são imprescindíveis para uma sociedade e feminismo justos.
Pós escrito: uso apas (“) para que de qualquer maneira, entendam no sentido cultural e literal (do dicionário). Mulher sempre é subordinada a algo.
