Vozes pretas: a trajetória de mulheres que romperam barreiras de uma sociedade racista

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Mesmo 132 anos após a abolição da escravatura no Brasil, as cicatrizes e o racismo estrutural permanece presente no dia-a-dia da população. Segundo dados do IBGE, brancos continuam morando nos melhores bairros, com os maiores salários e maior acesso à cultura, educação e, consequentemente, ingressam em universidades de maior reconhecimento, continuando desta forma o ciclo interminável da soberania branca.

Foi só na ultima década que personagens negros passaram a ser melhor representados na TV, por exemplo. Substituindo os clássicos papéis de “ladrão”,  e “empregada doméstica”, e passando a ocupar papeis como “chefes”, “empresários”, trazendo desta forma representatividade para os comerciais, marcas e redes sociais. Representatividade esta que, inspira o sentimento de inclusão e pertencimento em lugares de poder abandonando à lentos passos os estigmas de uma sociedade racista.

Larissa Rezende, mulher negra de 23 anos e moradora de  Guaraci-PR, é uma entre a multidão que se levanta, conquista, e exige por direito seu lugar no topo. Cursou Direito pela Universidade Estadual de Londrina e hoje, já formada, é pós graduanda em Direito Processual e Penal. De família pobre, foi a primeira à chegar ao ensino superior.
Em entrevista ao Terceira Opinião, Larissa contou que mesmo tendo muito pouco incentivo, preparo e dinheiro para cursinho preparatório, não desistiu de seus objetivos. Estudou em casa, com o computador que ganhou de seu padrinho, hoje falecido, e encontrou na internet auxilio necessário para seus estudos.

Foi babá, estagiária, e atualmente com seu próprio escritório, ressalta: ” O estudo é fundamental, de semente em semente se colhe bons frutos”. Aprovada atráves de cotas raciais, direito seu e de todos os negros, assegurado pelo estado, falou com orgulho de sua conquista.

Quando questionada sobre situações racistas, comentou: ” A gente nunca espera que vai acontecer, até que acontece”. Quando trabalhava em um Fórum da região, uma senhora branca negou seu atendimento, porque, segundo ela “Preto não atende bem”. Medidas cabíveis foram tomadas.

A advogada incentiva a denúncia ao crime de racismo e injúria racial. É preciso reconhecer e combater o crime.

Outro exemplo vem da PM Jaqueline Araujo, de 34 anos e moradora de Rolândia, que foi mãe aos 16 anos. Não abandonou seus estudos. Ingressou na faculdade de Direito e, sem dinheiro para bancar as mensalidades, recorreu ao Enem, conquistando desta forma uma bolsa integral. A ideia de entrar para a Polícia Militar veio da sua mãe, também policial, que indicou para Jaqueline o Concurso de Soldados da Polícia MIlitar. Desempregada, com dois filhos para criar, acabou se inscrevendo.

Em entrevista ao Terceira Opinião, Jaqueline contou que não estava nos seus planos entrar para a PM, um ambiente predominantemente masculino. Quinze anos após o ínicio, Jaqueline conta que não permite mais ser tratada de forma desrespeitosa. Contou também que comentários racistas em relação ao seu cabelo crespo, como “não combina com a farda”, passaram pela sua tragetória e que são enfrentados, não mais aceitos.

Completou: ” Com o tempo, aprendi que o dia da consciência negra não é para pretos, mas sim para aqueles que nunca passaram por situações racistas, e julgam como mi-mi-mi.”

Tanto Larissa quanto Jaqueline são exemplos de mulheres pretas que não se calam. Há um trecho de Bia Ferreira, cantora e compositora, que irá encerrar a matéria escrita à cima.

“…Experimenta nascer preto, pobre na comunidade
Cê vai ver como são diferentes as oportunidades

E nem venha me dizer que isso é vitimismo
Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo

São nações escravizadas
E culturas assassinadas…”

Por Paloma Ferraz

 

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