Homicídio, pedofilia e agressão a mulheres foram alguns dos casos mais graves que deixaram de ser atendidos na última quinta-feira (22), na delegacia de Jaguapitã. A população que procurou a delegacia encontrou as portas fechadas devido a mais uma rebelião na carceragem. Numa cela projetada para abrigar 12 presos, havia 50. Oito se rebelaram e cerraram as grades. O tumulto começou às 9h e só foi contido perto do meio-dia com a intervenção dos investigadores, do delegado e da PM. Os líderes do motim são condenados por homicídio, roubo e tráfico de drogas.
Nenhum preso fugiu, no entanto, a carceragem ficou totalmente destruída e os presos ficaram no pátio aberto, no terreno da delegacia. Foram apreendidas serras e celulares (na imagem). Por pouco, os presos conseguiriam invadir a delegacia com acesso ao cartório onde ficam armazenados os inquéritos e armas apreendidas. Das cinco dezenas de presos, mais da metade são de condenados. Não deveriam jamais estar ali e esse foi um dos motivos da rebelião. Mesmo assim, passadas mais de 24 horas, nenhum preso havia sido transferido. O Departamento Penitenciário foi notificado, mas sequer entrou em contato com o delegado.
A Associação dos Delegados de Polícia do Paraná (Adepol) repudia mais esse episódio. O vice-presidente da Associação, Daniel Fagundes, afirma que a sociedade não pode permitir com naturalidade essa situação caótica e insustentável no Paraná, estado que mantém, ilegalmente, 10 mil presos em delegacias de polícia. É a maior população carcerária do Brasil fora de presídios.
“Do início do ano até agora registramos 92 fugas de presos em delegacias. O Departamento Penitenciário finge que não tem nada a ver com isso e o governador continua mentindo há oito anos sobre a construção de 14 presídios, sendo que nenhum foi entregue até agora e a maioria sequer saiu do papel. Esperamos que o novo secretário de segurança pública, que é um delegado de Polícia Civil, se sensibilize com o problema e tome medidas efetivas para pôr fim a essa vergonha”, disse Fagundes.
No caso específico de Jaguapitã, pelo menos 50 inquéritos estão parados porque os policiais e o delegado precisam se desviar de suas funções investigativas para vigiar os presos e realizar constantes revistas nas celas. Não fosse isso, o delegado Maurício de Oliveira Camargo afirma que já teria “100% de resolutividade. Sou delegado há 32 anos e a situação nunca esteve tão caótica como agora. Isso nos gera uma frustração muito grande porque queremos fazer o nosso trabalho, atender à população, mas somos reféns da guarda de presos”, desabafou.
O dinheiro do Fundo Rotativo que deveria ser usado para material de escritório e aquisição de equipamentos de informática, móveis novos, vem sendo utilizado para reconstruir a carceragem. Em dezembro do ano passado já havia acontecido outra rebelião. “Se isso aqui desabar, a população é que ficará à mercê dos bandidos e isso não posso permitir”, disse Camargo.