O caso dos formandos de medicina de uma universidade particular de Maringá repercutiu durante toda a semana e virou, inclusive, destaque nacional. Os alunos acusam a Brave, de Florianópolis, de golpe. A festa de formatura para cerca de 120 formados seria realizada no último fim de semana, mas foi cancelada.
O jantar foi improvisado com um cardápio diferente do contratado – veja aqui. Já o baile foi organizado de última hora por uma empresa de Maringá e os formandos que fizeram um pagamento à parte para ter a festa.
Os alunos alegam golpe de R$ 3 milhões, valor total que teria sido pago ao longo dos anos de curso. Ainda no último fim de semana, o advogado de uma das formandas e a defesa da comissão de formatura entraram na Justiça pedindo o bloqueio de bens da Brave, como caminhões e equipamentos que estavam retidos em Maringá. A Justiça concedeu liminar, mas na quinta-feira, 26, o Tribunal de Justiça do Paraná liberou os equipamentos. Enquanto isso, o advogado que representa outra turma de medicina com formatura agendada para agosto deste ano conseguiu o bloqueio de outros ativos da Brave, para garantir a realização do evento daqui a sete meses. Nesta semana, após não conseguir contato com nenhum representante da Brave, o Procon multou a empresa em R$ 528 mil.
Já nesta sexta-feira, 27, a história teve um novo desdobramento, pois o advogado da Brave, Ricardo Medeiros de Araújo, se pronunciou sobre a situação.
Ao contrário do que disse o delegado Fernando Garbelini, da Delegacia de Estelionato (que a Brave não tinha intenção e nem condições de cumprir o contrato com os estudantes), o advogado nega as acusações. A Brave já havia divulgado uma nota sobre o caso, com informações que foram reiteradas pelo advogado. Ele fala em contrato por estimativa, narrativa de golpe e em encontrar os culpados.
Segundo ele, a empresa tem um fluxo de caixa definido conforme pagamentos e agora está completamente no vermelho. “Até em razão não só do bloqueio judicial das contas da empresa, como também da falta de pagamento da maioria das comissões que têm contrato com a Brave”, justifica.
Confira abaixo as explicações do advogado da Brave sobre o caso.
‘Contratos são estimativas’
O advogado Ricardo Medeiros de Araújo disse que, primeiramente, é preciso esclarecer que a Brave é uma empresa que tem bastante experiência na área de eventos, e, segundo ele, com um histórico muito bom, principalmente em relação à experiência dos sócios.
O advogado destaca ainda que, como toda empresa de eventos no Brasil, a Brave sofreu com a pandemia e, portanto, quase nenhum evento foi entregue em 2020 e 2021. “No entanto, em 2022 foram entregues aproximadamente 350 eventos, uma média de 5 a 8 eventos por semana”, diz.
Outro fator que é importante esclarecer, de acordo com o advogado, é que os contratos de gestão das formaturas são por estimativa. Ele destaca que o contrato fala da possibilidade de readequação e da Brave inclusive ceder o crédito para uma outra empresa, o que, segundo ele, nunca foi feito. “Essa narrativa de que isso é feito por preço fechado…isso não prospera. Imagina eu fechar um preço há 5, 6 anos atrás de um evento que vai acontecer somente esse ano. É sempre por estimativa, e quando vai chegando próximo das datas dos eventos vão fazendo-se ali os ajustes necessários. Muitas vezes, quando a comissão de formatura não tem condição financeira de encampar tudo aquilo que lá na origem do contrato foi combinado, vai-se cortando uma atração ou substituindo, pelo menos, por uma mais barata, vai-se adequando o projeto pra que se consiga realizar”, justifica.
Narrativa de golpe nunca existiu, diz advogado da Brave
Segundo o advogado, 80% do que estava no contrato dos alunos de Maringá foi entregue. Ele assumiu que houve o que ele chama de desacerto comercial, mas diz que é preciso apurar quem são os culpados. Leia na íntegra o que diz o advogado sobre o assunto:
“Essa narrativa que se foi construindo de sábado pra cá, de golpe, isso nunca existiu. Empresa que quer dar golpe não comparece no local, não faz o que a Brave fez. Isso precisa ser descontruído, até pela mídia, porque se houve desacerto comercial? claro que houve. Agora a gente tem que apurar quem são os culpados do desacerto comercial. Vamos verificar se realmente houve furo no projeto, vamos verificar se realmente houve contatos. Vamos apurar isso judicialmente, porque de fato houve. A empresa insiste em dizer que houve um déficit de projeto de R$ 533 mil, só que a Brave propôs um aporte de R$ 3.300, eles não aceitaram, de R$ 3 mil eles não aceitaram…por formando, inclusive com possibilidade de pagamento no cartão de crédito em dez parcelas. De R$ 2.500 não aceitaram.. até de R$ 2 mil não aceitaram, pra poder fazer vários cortes e entregar a formatura de sábado. Essa narrativa de golpe… de R$ 3 milhões…não existe, nunca existiu. Foi feita a dream trip, que é uma viagem que os formandos fazem, sob administração da Brave, foram feitos ensaios fotográficos sob administração da Brave, foi feita missa de formatura na quarta-feira que antecedia o baile, também pela organização da Brave. Aí na quinta-feira foi feito o jantar, na sexta-feira foi feita a colação de grau, tudo isso a empresa já há mais de dez dias no local, montando e desmontando…um evento atrás do outro. E há mais de seis meses a empresa já vinha dizendo que o projeto estava deficitário e que era necessário um aporte originário de R$ 530 mil, mas com R$ 350 aproximadamente conseguiam já entregar praticamente tudo, fazendo algumas readequações, e a comissão não foi aceitando nenhuma de todas as propostas que a Brave fez, ou seja, não quis pagar. Mas a Brave cumpriu 80% do contrato ou mais que 80% do contrato. Isso é importante deixar bem claro“.
Festa organizada de última hora causou estranheza, diz advogado
O fato de os formandos terem conseguido organizar a festa de formatura gera estranheza, segundo o advogado a Brave. Leia na íntegra o depoimento dele:
“Agora estranhamente não se consegue entender o porquê de tão rapidamente fazer uma outra formatura com uma outra empresa aportando valores maiores, porque as notícias e as informações que me chegaram é de que foi em torno de R$ 10 mil por aluno. Em torno de 49 ou 50 formandos aderiram a essa nova formatura, ou seja, nós estamos falando em um orçamento aí de aproximadamente R$ 500 mil, e rapidamente, em menos de 24 horas, o que a gente considera quase impossível de se fazer, foi feita uma festa, uma belíssima festa pros formandos que contrataram essa empresa. Nos causou muita estranheza”.
Brave não vai conseguir entregar festa de formatura no Rio de Janeiro por causa da situação de Maringá, diz advogado
Neste fim de semana deveria acontecer a festa de formatura dos estudantes de medicina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), organizada pela Brave. Porém, segundo o advogado da Brave, por conta da situação envolvendo os formandos de Maringá, a festa não deverá ser realizada. Veja o que ele diz:
“Olha só…por uma questão óbvia nós não vamos conseguir realizar ou dar uma estrutura da forma que a Brave gostaria de dar. Nós já estamos desde o início da semana em contato com a representante jurídica lá daquela comissão, em razão de todos os equipamentos, caminhões, bebidas, mobiliários, objetos de decoração…algumas carretas de equipamentos estarem aí em Maringá e só foi liberado ontem (quinta-feira, dia 26), por decisão do Tribunal de Justiça do Paraná. Não existe tempo hábil pra se deslocar para o Rio de Janeiro e ainda montar um evento no Rio de Janeiro. O que nós fizemos? A representante jurídica entrou em contato conosco e nós imediatamente começamos a repassar todas as informações. Nós mandamos os contratos dos fornecedores, nós mandamos comprovantes de pagamento que já haviam sido feitos, alguns feitos totalmente, alguns feitos parcialmente, porque isso é comum no ramo de eventos…você às vezes dá um sinal e paga na semana do evento, às vezes no dia do evento e às vezes até depois do evento. E no caso de Maringá tem situações também muito parecidas com isso. Alguns fornecedores estão dizendo que não receberam. Não. É que foi contratado de uma forma e depois eles estão dizendo que não receberam, mas tem comprovante de pagamento lá, do sinal. Só que o ajuste foi pra pagamento quando? A história de Maringá vem com relação ao buffet, só que a Brave, quando o fornecedor disse que não ia fazer, a Brave imediatamente deslocou uma equipe de buffet pra lá”.
Brave tem contrato com outra turma de formandos de Maringá
Uma outra turma de formandos de Maringá contratou a Brave e a festa está prevista para acontecer em agosto em Maringá. Questionado se a festa irá acontecer, o advogado disse que a empresa está focada em resolver os eventos e pré-eventos marcados para fevereiro. “E obviamente existe um comitê na direção, reunidos pra poder reprogramar o que vai ser feito daqui pra frente. A intenção é entregar todos, agora precisa-se realinhar e voltar ao curso do andamento, que como foi no ano de 2022, fazer também em 2023”.
As informações são do GMC On-line.