Funcionários do segundo turno de um frigorífico situado em Jaguapitã, no norte do Paraná, denunciaram uma série de abusos, humilhações e práticas ilegais dentro da empresa. Em um desabafo contundente, uma colaboradora que decidiu se desligar da função após ser vítima constante de constrangimentos revelou a dura realidade enfrentada por muitos trabalhadores da unidade.
Segundo o relato, o clima de desrespeito atinge praticamente todos os setores, da produção à cozinha, passando pela liderança, coordenação, RH e auxiliares de mesa. “Ali ninguém passa ileso das humilhações. Se ainda não foi humilhado, um dia será”, afirmou.
“Teatro” para auditorias
Uma das principais queixas se refere ao que os trabalhadores chamam de “teatro” durante auditorias e visitas oficiais. De acordo com a denúncia, nessas ocasiões, o ritmo de produção é reduzido, os funcionários são tratados de maneira cordial e até deslocados para funções de limpeza — uma prática caracterizada como desvio de função. “Depois que a visita vai embora, tudo volta ao normal: gritaria, xingamentos e pressão abusiva. O RH? Omisso e completamente indiferente.”
Liderança sob suspeita
Um encarregado em especial foi duramente criticado por sua postura. Ele é acusado de submeter estrangeiros — especialmente haitianos e africanos — a condições degradantes de trabalho, além de perseguição e constrangimentos. “Se eles tivessem coragem de relatar tudo ao RH, seria caso claro de justa causa. Mas muitos têm medo de perder o emprego”, diz a denúncia.
Ainda segundo o relato, esse mesmo líder já foi alvo de questionamentos anteriores por atrasos propositalmente causados nos ônibus da empresa. O motivo? Supostas “escapadas” em horário de expediente, o que reforçaria a cultura de impunidade dentro da gestão.
Auxiliares e mesa de corte: ordens absurdas
Entre os auxiliares de mesa, há quem proíba as funcionárias até mesmo de conversarem, e relatos de ordens que obrigam haitianas a recolherem produtos do chão — o que viola normas básicas de higiene e segurança alimentar. “Há auxiliares que não trabalham e apenas observam, enquanto outras funcionárias se desdobram. A liderança vê e nada faz”, completa.
️ Cozinha: “inferno dentro da empresa”
A área da cozinha também foi alvo de denúncias severas. Uma funcionária é acusada de gritar com trabalhadores, negar pães a estrangeiros e limitar a quantidade de comida servida. “Ela diz que se quiser mais comida, que comam em casa. Um rapaz foi humilhado e obrigado a assinar advertência por pegar um pão a mais”, relata.
A qualidade da alimentação fornecida também foi duramente criticada. “É frango todos os dias. E mesmo assim, tem líder que grita que é só um pedaço por pessoa. Isso é desumano”, lamenta a denunciante. Ainda segundo ela, a alta rotatividade na cozinha é um reflexo do ambiente tóxico e da gestão autoritária.
Apoio jurídico e esperança por mudanças
A trabalhadora encerra seu depoimento afirmando que muitos colegas têm medo de denunciar por medo de represálias, mas reforça a importância de procurar o Ministério do Trabalho, advogados especializados e até a delegacia em casos mais graves. “Não é só o dinheiro que levamos para a Justiça, é nossa dignidade, nossa saúde mental. A empresa precisa urgentemente mudar sua liderança.”
Apesar da gravidade das acusações, a funcionária reconhece que existem bons profissionais na empresa, inclusive na equipe da qualidade, que “melhorou bastante nos últimos tempos”.
O que diz a legislação?
As práticas denunciadas — como desvio de função, assédio moral, omissão do RH, alimentação inadequada e punições abusivas — podem configurar infrações trabalhistas graves e passíveis de multa ou ação judicial. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante aos trabalhadores condições dignas de trabalho, alimentação adequada e respeito à sua integridade física e psicológica.
