A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas rejeitou, por 4 votos a 3, o relatório final apresentado nesta quinta-feira (12) pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que pedia o indiciamento de 16 pessoas, incluindo influenciadores e empresários ligados às casas de apostas. Entre os nomes estava o da influenciadora Virgínia Fonseca.
A rejeição encerra de forma melancólica uma comissão marcada por denúncias de lobby, conflitos internos, falta de foco e até acusações de extorsão. Votaram contra o relatório os senadores Angelo Coronel (PSD-BA), Eduardo Gomes (PL-TO), Efraim Filho (União-PB) e Professora Dorinha Seabra (União-TO). A favor: Eduardo Girão (Novo-CE), Alessandro Vieira (MDB-SE) e Soraya Thronicke.
Apesar da derrota, a relatora afirmou que irá encaminhar as provas reunidas ao Ministério Público Federal e a outros órgãos de investigação criminal.
Manobras, ausências e viradas de posição
Durante os trabalhos, a CPI enfrentou dificuldades para formar quórum e aprovar requerimentos. Na votação final, foi autorizada a participação remota para garantir a deliberação. Parlamentares que estiveram ausentes da maior parte das reuniões reapareceram apenas no dia da votação.
O senador Eduardo Gomes, um dos principais articuladores contra o relatório, criticou o que chamou de “espetacularização” das CPIs. Segundo ele, muitas comissões viram “circos” guiados por motivações políticas:
“O destino de xerife de CPI tem sido o desencontro com a opinião pública e com o respeito do eleitor. Geralmente, pirotecnia, ataque direto à honra dos outros e inconsistências nas denúncias são vistas como demagogia e hipocrisia.”
Já o senador Angelo Coronel, que apoiou a legalização dos jogos, questionou o curto prazo de dois dias entre a apresentação e a votação do relatório:
“Não me sinto confortável para votar um relatório que não li. E sou franco: sou favorável aos jogos. O resto do mundo joga. Será que só nós estamos errados?”
A fala contrasta com sua postura no início da CPI, quando defendeu investigação rigorosa e regulamentação para o setor.
Relatório visava coibir abusos das bets
O relatório rejeitado previa, além dos indiciamentos, a proibição do chamado “jogo do tigrinho” e a revisão anual da taxa de outorga para empresas operarem legalmente no país. Soraya Thronicke defendeu a robustez das provas e lamentou a blindagem das grandes operadoras de apostas:
“Poderia ter indiciado mais gente. Mas escolhemos apenas aqueles contra os quais havia indícios consistentes. Mesmo em 130 dias, reunimos um volume imenso de material.”
A CPI foi duramente pressionada por lobbies do setor. Em algumas reuniões, havia mais advogados e representantes das bets do que senadores. Os principais grupos de apostas foram poupados de medidas como quebra de sigilos.
Crise interna e denúncias de extorsão
A comissão também enfrentou desgaste com denúncias de que um lobista ligado à relatora teria pedido dinheiro a empresários em troca de blindagem. Um dos supostos alvos da tentativa de extorsão seria Fernando Oliveira Lima, do grupo OIG Gaming, ligado ao senador Ciro Nogueira (PP-PI), apontado como liderança informal da “bancada das bets”.
Ciro, suplente da CPI e sem direito a voto, reagiu duramente:
“Senadora acusada de auxiliar lobista a extorquir investigado não tem credibilidade.”
A CPI foi instalada em novembro de 2024 e prorrogada em abril, com prazo final até 14 de junho. A tentativa de nova prorrogação não foi apreciada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
fonte: tnonline