Acúmulo de açúcar nos neurônios pode acelerar Alzheimer, revela estudo - Jornal Terceira Opinião

Acúmulo de açúcar nos neurônios pode acelerar Alzheimer, revela estudo

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Um novo estudo publicado nesta segunda-feira (30/6) na revista Nature Metabolism sugere que o metabolismo do açúcar no cérebro pode desempenhar um papel crucial na progressão de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e demência frontotemporal.

Os pesquisadores descobriram que a forma como os neurônios lidam com o glicogênio — uma reserva de glicose — pode influenciar o acúmulo de proteínas tóxicas e acelerar os danos cerebrais.

Normalmente, o glicogênio está associado ao fígado e aos músculos, onde serve como fonte de energia. No cérebro, ele aparece em quantidades menores, principalmente em células de suporte conhecidas como astrócitos. Por muito tempo, seu papel nos neurônios foi considerado irrelevante. No entanto, cientistas do Buck Institute for Research on Aging, nos Estados Unidos, demonstraram que o acúmulo dessa substância nas células nervosas pode estar diretamente ligado ao avanço de doenças degenerativas.

A pesquisa, liderada pelo cientista Sudipta Bar com apoio do professor Pankaj Kapahi, analisou neurônios humanos derivados de pacientes com demência e moscas-das-frutas geneticamente modificadas. Em ambos os casos, os neurônios doentes apresentavam acúmulo excessivo de glicogênio, o que impedia a correta degradação da proteína tau — uma das responsáveis pela formação de emaranhados cerebrais típicos do Alzheimer.

A boa notícia veio quando os cientistas restauraram a atividade da enzima glicogênio fosforilase (GlyP), responsável por quebrar o glicogênio. Com isso, os danos provocados pela proteína tau foram reduzidos. Além disso, os neurônios passaram a redirecionar o açúcar acumulado para uma via metabólica alternativa — a chamada via das pentoses fosfato — que gera substâncias protetoras, como NADPH e glutationa, essenciais na defesa contra o estresse oxidativo, um dos maiores vilões do envelhecimento cerebral.

“Quando aumentamos a atividade da GlyP, as células conseguiram se proteger melhor dos danos e, no caso das moscas, até viveram mais tempo”, explicou Sudipta Bar em comunicado oficial.

Dieta e medicamentos como aliados

Outro destaque da pesquisa foi o impacto da restrição alimentar, conhecida por prolongar a longevidade em diversas espécies. Nos testes, essa prática aumentou naturalmente a atividade da enzima GlyP e reduziu os sinais de neurodegeneração nas moscas-modelo.

Além disso, os cientistas conseguiram imitar esse efeito utilizando um composto chamado 8-Br-cAMP, o que sugere que medicamentos específicos também podem ativar esse mecanismo de proteção cerebral. Isso pode explicar os resultados promissores de fármacos usados para emagrecimento, como os agonistas de GLP-1, em estudos sobre demência.

“É possível que esses medicamentos funcionem por imitarem os efeitos da restrição alimentar, ativando o sistema de remoção de açúcar nos neurônios”, afirmou Kapahi.

Os resultados também foram confirmados em neurônios humanos com demência frontotemporal, o que reforça o potencial terapêutico da descoberta.

Segundo os pesquisadores, o uso de modelos simples como a mosca-da-fruta foi fundamental para acelerar a transição dos testes para células humanas. Eles acreditam que entender melhor como os neurônios lidam com o açúcar pode abrir novos caminhos no combate à neurodegeneração.

“Em um mundo que envelhece rapidamente, compreender esse ‘código oculto’ do metabolismo pode ser uma chave poderosa contra a demência”, concluiu Kapahi.

 

 

 

fonte: metrópoles

 

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